O início dos meus tempos sombrios

A segunda vez que passei pela Paralisia do Sono veio com uma surpresa agregada. Quem já passou por isto sabe o quanto apavorante é acordar e não se conseguir mover…

Esta é a história da segunda vez que passei pela experiência de sofrer com uma paralisia do sono e esta trouxe-me um extra: cobreiro.

Estávamos a 16 de Dezembro de 2017. Acordei por volta das 9h e lá estava eu, novamente sem conseguir mover um músculo. Deitado de bruços, desta vez de olhos abertos, sem conseguir ver o que se passava à minha volta. E novamente aquele sentimento de que não estava sozinho.

Algo ou alguém saltava para cima da cama e eu sentia o afundar do colchão à medida que aquela criatura dava os seus passos até à zona das minhas costas, um pouco abaixo dos ombros. E eu ali sem conseguir ver nada, com o meu ângulo de visão tapado pelos meus ombros e pela manta que me cobria até ao pescoço.

De repente senti o peso nas costas.

Desta vez não senti as mãos em volta do pescoço, mas senti aquele peso… Aquele peso chato que não saía de cima. Os dedos que não se queriam mover, os braços que nem pareciam estar ligados ao corpo… Apenas a respiração e os olhos que não desistiam de tentar ver quem se sentava em cima de mim…

Lá consegui mexer a cabeça. Virei-a para o outro lado e fiquei com a bochecha esquerda no colchão. Não sei quanto tempo passou, não foi muito, mas quando vi já eram 10h, quase 11h.

Sentia alguns movimentos em cima de mim, mas já nada me deixava assustado, já tinha passado por isso, portanto também já sabia o que me esperava, então estava calmo na medida do possível.

Os minutos, que pareciam horas, passavam devagar. E eu estava apenas ali, a existir. Acho até que cheguei a dormir mais uns minutos.

Quando finalmente consegui levantar a cabeça e sair da cama, segui a vida normal, com exceção de uma coisa: sentia ainda um formigueiro estranho na face esquerda…

Ao lavar os dentes percebi que toda a minha face esquerda não se movia e parecia que toda a sua estrutura estava a “descer”. “O que se passa?” – o pânico começou a instalar-se, mas resolvi parar e pensei: “respira fundo, tem calma, não vale a pena”. Claro que estava a tremer feito um louco, mas ok, vamos lá… Peguei no carro e fui até ao trabalho dos meus pais onde lhes mostrei o que se estava a passar.

O próximo passo foi correr até ao centro de saúde.  E após algum tempo à espera (na verdade, umas horas), ouvi um “Vá já ao hospital, só lá é que poderão fazer alguma coisa”.

Aqui é que a névoa se instala e já não me lembro de grande coisa. Lembro-me do meu médico de família da altura dizer apenas “isso não é preciso fisioterapia, com o tempo vai ao lugar”.

Nunca voltou a 100%, mas não podemos pedir nada, pois não? O que voltou já é lucro. Fiquei mais calmo e vida que segue. Era engraçado sentir a volta dos movimentos.

Lembro-me de estar sentado à mesa a jantar e sentia movimentos involuntários em algumas zonas da face como se tudo “vibrasse”. Depois, uma sensação de “quente” e, por fim, uma sensação de alívio e a volta dos movimentos. Ficava tão feliz nessas alturas. Cada vez que sentia isso era o mesmo que ganhar na lotaria.

“O movimento voltou! Mais um músculo que voltou à vida!”

Bem… Tudo muito bonito, mas faltou contar-vos que estive 4 ou 5 meses nessa evolução, nada disso foi do dia para a noite e a depressão instalou-se.

E para piorar, exatamente um mês depois da paralisia, ganhei mais um extra. A lotaria saiu-me à força. Além da paralisia, ganhei também outro problema: o cobreiro. Ou herpes zóster.

Primeiramente quero explicar-vos o que é o Herpes zóster. Todos nós temos esse vírus adormecido dentro de nós, apenas alguns de nós somos mais propícios a deixá-lo florescer do que outros. No meu caso, após a paralisia e toda a medicação que tomei, as minhas defesas foram completamente abaixo, o que deu espaço para que o herpes atacasse.

Foram longas semanas que passei mais a dormir do que acordado. Tomava os medicamentos, dormia, comia, fazia a higiene básica e voltava a dormir.

O tempo que passava acordado era para ver séries (mas dormia na maior parte dos episódios), não tinha nem capacidade de escrever ou evoluir as minhas histórias… E, ainda por cima, estava em tempo de aulas!

O resultado desta aventura foi a recuperação de, mais ou menos, 90% dos movimentos. Ótimo, quase não se nota nada, exceto ali numa zona acima da boca, perto do nariz…

Bem, o que é certo é que custou, custou muito, mas tudo bem, mais uma batalha que foi ganha (mais ou menos).

Noutra altura continuarei essa história. Por agora ficamos por aqui… Obrigado pelo vosso tempo! Espero que nenhum de vocês passe pelo que eu passei ou, pelos menos, não de forma tão agressiva.

Gerson Rosário


Compra já “O Guardião das Lendas” pelos canais oficiais:
Wook.pt ou na Loja Oficial

Deixe um comentário