Hoje tenho a árdua tarefa de vos escrever sobre algo relevante para o tema do meu livro, “O Guardião das Lendas”, e pensei: que tal aproveitar a oportunidade para revelar qual foi o ponto de partida?
E é o que eu decidi fazer aqui.

Temos de começar por algum lado.
Estávamos no ano de 2008, mais precisamente a 15 de agosto, final do dia, com o pôr-do-sol ao longe e todo aquele laranja refletido nas paredes brancas quando um jovem Gerson, bastante pensativo depois de ter gravado a sua primeira curta (há muito perdida, não me venham pedir para ver aquilo…), se perguntou “o que eu poderia fazer agora? Bem, se calhar vou tirar um tempo e vou ver alguns filmes ou uma série. Mas não encontro nenhuma série de terror como eu gosto. Terror mesmo terror, uma coisa mais pesada e com poucos filtros”.
Bem, resolvi que o resto que tinha de verão seria para escrever a minha história de terror. Mas não qualquer uma. Seria uma história com tudo o que eu acho que uma série devia de ter e com um terror a sério.
Escolhas e opções…

Rapidamente decidi que ia escrever sobre lendas urbanas (para mim o apogeu do terror). Afinal, como é que umas histórias tão curtas e às vezes sem pés nem cabeça conseguem transmitir tanto receio pelo oculto, tanto medo?
Comecei por delinear alguns pontos principais: 1º seria uma série antológica (cada episódio sobre uma lenda, assim o leitor/espectador não ia precisar de ver todos os episódios para fazer sentido à história), 2º foco principal nas lendas da semana, ou seja, cada episódio se focaria em apenas uma lenda de cada vez e não haveria um fio condutor (Alexandre), 3º quantos episódios e quantas temporadas?
Decisões!
Bem. Este 3° ponto foi o responsável pela decisão final. E ficou tudo decidido de forma diferente no final das contas. Desisti da série antológica. Não é uma opção nada má para o género do terror (American Horror Story não me deixa mentir), mas não era o que eu queria/precisava, pois isso resultaria em episódios com demasiada diferença de duração.
Decidi que ia chegar mais longe. Queria criar a minha própria origem e ideia de onde as lendas aparecem, queria ter tempo para contar a lenda e, mais importante, dar-lhe uma conclusão. A falta de um protagonista fixo poderia ser também uma forma de afastar leitores/espetadores e foi por isso que nasceu o Alexandre.
A criação de Alexandre
Quando eu comecei a criar o Alexandre, sabia que precisava de uma personalidade forte, pois ele iria carregar com uma história pesada nas costas. Tinha de ter um passado e uma bagagem grande e estar já pronto para o que o futuro lhe reservava.
Conhecemos Alexandre, começamos a conhecê-lo nos seus 17 anos; um ainda adolescente revoltado (afinal vive apenas com o pai e é posto de parte pela maioria dos colegas pelo simples facto de gostar de histórias de terror), fechado em si mesmo, com uma tremenda dificuldade em deixar alguém entrar na sua vida. A sua forma de falar, como se estivesse sempre certo, chega a roçar a arrogância e a soberba.
Apesar de ser alguém que geralmente é posto de parte, tem sempre muita gente em volta, seja ou por ser conhecedor das lendas, ou pelos seus hobbies (um deles é a organização de festas e o outro é Bartender).
A duração das temporadas

Tenho de admitir que nunca fui muito bom a dar um fim decisivo para o que escrevo. E costumo pôr as culpas na seguinte ideia: “as nossas vidas são bem longas, e mesmo depois de já não estarmos cá, continuamos vivos nas memórias de quem fica (pelo menos por alguns anos)”. Por fim, acabei por tomar a decisão de que a série ia ter 02 temporadas apenas e que isso seria suficiente.

Naqueles anos estávamos todos habituados a séries em que a temporada principal do ano começava em finais de setembro e ia até finais de maio do ano seguinte para não apanhar férias grandes, momento em que as audiências descem sempre, e isso criou um método de trabalho em que escreviam temporadas longas, que normalmente tinham entre 22 a 24 episódios.
Tomei então a decisão de que cada temporada deveria ter, no máximo, 16 episódios. E ainda teria a oportunidade de dividir a temporada em duas partes de 8 (o que em termos de planeamento é sempre mais confortável, pois criamos a história em arcos, e fica mais fácil para quem segue não perder o fio condutor).
Comecei a planear as ações de cada episódio, os restantes personagens, a delinear o fio condutor e como é que as diversas lendas poderiam cruzar-se com a narrativa do Alexandre e, principalmente, decidir as razões que levam a que isso aconteça.
Começou então essa longa jornada que se estende até hoje.
A inspiração

Para quem não conhece, “Ghost Whisperer“, ou Entre Vidas (SIC), Em Contacto (Fox Life/Syfy), é uma série americana que segue a vida de Melinda Gordon (Jennifer Love Hewitt), que tem o dom de comunicar com espíritos com assuntos pendentes, e os ajuda a seguir em frente, a “entrar na luz”.
Eu vi essa série várias vezes. Tive essa protagonista como a minha atriz favorita durante muitos anos, o tema próximo das lendas e mitos, o dom que ela tinha, igual mas ainda assim tão diferente de tantos outros fez com que essa se tornasse a minha série favorita durante muito, muito tempo.
Claro que há séries melhores (e piores), mas essa foi um enorme ponto de partida para mim. Mais precisamente a 3ª temporada. Foi o que me fez ir atrás de tantas histórias e que me ajudou a trabalhá-las de uma forma que eu não vi mais ninguém fazer.
Ghost Whisperer
A terceira temporada foi a propulsora porque é nessa temporada que a Melinda conhece o seu passado e, finalmente, reencontra o seu pai há tanto tempo desaparecido.
A forma como trabalharam essa temporada, pelo menos na altura em que a vi, era como se a minha curiosidade pela vida alheia estivesse a mil à hora e só me importava sobre o próximo episódio sair porque eu queria saber o que ia acontecer a seguir. E eu queria essa sensação na minha série, senão, porque outra razão é que alguém ia querer ler?
Não quero de todo dizer que esta série é super boa e que não há melhor ou que temos todos de a ver porque ela é que ensina tudo o que precisamos de saber se formos escrever a nossa própria série. Até porque eu, que era fã e ainda gosto da série, sei ver que quando a história finalmente está a ficar mesmo, mas mesmo boa, a temporada acaba. É um pouco anticlimática, dá quase a sensação de que há ali um limite e que, quando lhe tocam, afastam-se logo com medo de partir alguma coisa. O que, na altura, me fazia um pouco de confusão, até porque quando esta série estreou, não estreou sozinha (Médium e Supernatural estrearam no mesmo ano).
Supernatural
Supernatural era uma série um pouco tosca no início, mas isso porque se estava a descobrir e a encontrar o seu lugar. As atuações não eram nada por aí além (os protagonistas não eram grande coisa e os atores da semana geralmente eram menos bons).

Mas a lore era muito mais complexa (e direcionava-se diretamente às lendas!), tinha monstros, o que Ghost Whisperer não tinha, e criou uma base de fãs muito mais forte. Quais as diferenças? Bem, não me quero alongar, por isso vou ser direto. Supernatural tinha os fãs otakus que sabiam tudo sobre os monstros e iam para as convenções vestidos a rigor. Ghost Whisperer sempre foi mais recatada e dona do lar, muito mais virada para o romance e não tanto para o género do terror como as publicidades tanto diziam que era.
E isso foi fatal. Basta comparar o número de temporadas… Supernatural durou (só) mais 10 anos do que Ghost Whisperer.
“Ah, mas então copiaste o Supernatural com as lendas”. Não. E ainda digo mais: eu nunca tinha visto uma temporada completa de Supernatural até este ano (2024), quando comecei a primeira temporada em meados de fevereiro.
Resumindo…
Falei, falei e parece que não disse nada. Tenho esta mania de divagar, o que posso fazer? Não queria fazer uma crítica aprofundada a nenhuma das séries, queria deixar aqui um registo da inspiração da minha história, mas também queria dizer que, embora essa tenha sido a razão de começar a escrever, e embora só agora tenha começado a assistir à outra série, “O Guardião das Lendas” tem muitas mais inspirações.
Não vou enumerar, até porque é impossível, afinal estou a escrever esta história de terror há já metade da minha vida; mas bebi inspiração de todos os géneros de filmes, fossem eles excelentes, bons, maus ou péssimos. E claro que o plano inicial mudou ao longo do tempo. Até porque… este primeiro livro não existia até há um ano e meio atrás – mas essa é uma história para outro dia.

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Gostava de saber a vossa opinião. Ghost Whisperer é bom? Supernatural tem categoria para estar no patamar que está? Digam-me o que acham. 🙂
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