A Vingativa Rapariga do Baile

ATENÇÃO: No Brasil a lenda chama-se “A Moça do Baile” devido ao sentido pejorativo da palavra “rapariga”.

Introdução

Ilustração da “Rapariga do Baile”, gerado por IA.

São várias as mulheres que se veem em histórias de lendas urbanas. Geralmente munidas por beleza sem igual, corpos sensuais, sorrisos perfeitos, cabelos longos e, principalmente, vestidos longos e esvoaçantes, estas mulheres costumam ser as personagens principais, e violentas, destas lendas onde a sua sede de vingança é satisfeita apenas após acontecer uma ou mais mortes… pelo menos por aquela noite.

A Rapariga do Baile é uma lenda que fala de uma mulher tão linda que encantava não só os homens como também as mulheres, cativados pela sua beleza sem igual. Completamente deslumbrante, dançava toda a noite enquanto seduzia a sua vítima e, depois, a levava até sua “casa”. Casa entre aspas porque, como já sabemos, nem tudo é tão literal neste tipo de história. Ora vejamos, a seguir, como é uma das lendas que nos fala sobre este ser espiritual.

As lendas da Rapariga do Baile

A Rapariga do Baile:

Contava a minha avó que, em tempos que já lá vão, tinha havido uma vez um baile; e um soldado foi ao baile e dançou a noite toda com uma rapariga. No final da noite, decidiu levá-la a casa e, como estava um pouco de fresco ela estava um pouco arrepiada, tirou o casaco e pôs-lhe o casaco nos ombros. Entretanto levou-a a porta de casa, despediram-se e ele, no dia seguinte, voltou à casa para ir buscar o casaco. Bateu à porta e apareceu-lhe uma senhora e ele perguntou se a filha estava em casa.
A senhora, um bocado emocionada, disse-lhe: a minha filha não, a minha filha faleceu há um ano.
E ele disse: não, isso é impossível. Ainda ontem dancei a noite toda com a sua filha no baile e emprestei-lhe o meu casaco. Não, deve ser um engano qualquer.
E ela disse: Desculpe!
Afastou-se e tinha um retrato na parede e mostrou-lhe.
Foi com esta rapariga que dançou ontem a noite?
E ele: Sim, sim, foi essa mesmo.
Pois, esta foi a minha filha que faleceu há um ano.
Ele não queria acreditar. E ela resolveu levá-lo ao cemitério. Quando chegaram ao cemitério, estava o casaco dele em cima da campa da rapariga, e assim ficou a história.

Como podem perceber, este é o tipo de lenda que conhecemos muito bem, tem um início rápido e quase inexistente, conhecemos a lenda e o final fica sempre em aberto. Esta é a lenda mais difundida d”A Rapariga do Baile”, uma alma penada que segue vivenciando o seu último dia de vida até ao fim dos tempos.

Deixo-vos agora uma segunda versão da lenda, embora com as suas parecenças com a anterior:

A Moça do Baile:

Milito um jovem bonito, galanteador, dançarino nato dizia que se uma moça dançasse com ele bastava para conquistar o coração dela, vaidoso e presunçoso trazia a confiança, já que ao passar por muitas jovens essas suspiravam, contava-se que muitos casamentos haviam sido desfeitos pelo seu poder de conquista.

Uma moça desprezada por ele, rogou aos céus que esse fosse castigado e fez uma promessa com todas as forças do seu coração.

O baile no cassino, casa cheia, nisso uma bela moça chamou-lhe a atenção, procurou seus olhos e esses se encontraram, ela sorriu e fechou lentamente os olhos convidando ele para vir até ela. Ele então não pensou duas vezes e tirou ela para dançar, então uma valsa, os dois rodopiaram pelo salão aos olhos de todos.

Milito foi tomado pelo olhar profundo e pelos lábios vermelhos da moça, já faziam horas que dançavam, dançavam enfim Milito se apaixonara, encantado pelo jeito, pela voz, pelo perfume, pela pele, pelos movimentos simples, jamais em toda sua vida tinha passado pela sua cabeça em casar, pois agora foi tomada por tal ideia. Como era possível um amor tão repentino, tão arrebatador, mas a moça apesar de tudo não revelou seu nome, só sorria e dizia: – Tu saberás na hora certa.

Porém no horizonte lá da sacada do Cassino, timidamente a luz do dia vindouro aparecia pelas bandas do Vacacaí.

A moça então pediu licença, voltou logo e disse: – Preciso ir. – Milito então não se conformou: – Não, eu te levo em tua casa, faço questão. – Ela sorriu mostrando os dentes alvos e perfeitos. – Não, eu já chamei um auto de praça, está me esperando aí na porta. Amanhã tu vais me visitar – Falando isso colocou no bolso de sua camisa um papel dobrado. – Ele fez menção de olhar o papel. Ela segurou sua mão e disse: – Não leia agora, amanhã te espero. – Ao saírem a noite gélida com uma brisa que arrepiava. Milito tirou seu paletó e cobriu seus ombros nus e disse: – Tenho o pretexto para te ver amanhã, pegar meu paletó. – Ela sorriu e entrou no carro atirando-lhe no ar um beijo soprado com seus lábios, Milito mordeu os seus e deu um soco no ar de felicidade.

Milito então não sabe como chegou em casa, apenas acordou, já eram 11 horas, então lembrou da noite, ansioso e apaixonado, foi até sua calça, abriu o papel e nele dizia: “Catacumba 456, cemitério da Santa Casa, lá encontrarás meu nome”.

Milito não acreditou, é uma brincadeira de mau gosto, pegou o carro e partiu para o cemitério. Chegando lá, foi direto a catacumba e lá estava seu paletó dobrado no túmulo e nele estava escrito: GUAPA e a foto da única moça que amou de verdade.

Milito jamais foi o mesmo, não conseguiu mais esquecer o rosto, o sorriso e principalmente o olhar da mulher que roubou seu coração.

Imagem ilustrativa do que seria a "Rapariga do Baile", de vestido branco, sorriso, olhos que não largam os olhos da sua vitima, olhada por todos em volta enquanto dança com o seu vestido esvoaçante.
Imagem ilustrativa. “A Rapariga do Baile”, anos 20.

OBS: GUAPA foi uma prostituta que virou santa popular da Cidade São Gabriel por ser brutalmente assassinada e por ser uma pessoa que ajudava os necessitados, se preocupava com doentes, velhos e pessoas da classe baixa. Dizem que sua morte foi encomenda de uma esposa rica e abastada ciumenta do envolvimento do seu marido com ela, que era dona de uma casa de tolerância de luxo existente em 1924.

Baseado no Livro LENDAS CAUSOS E ASSOMBRAÇÕES – Osorio Santana Figueiredo. Compilado por Beraldo Figueiredo – https://www.facebook.com/100066526373871/posts/113921745968924/

Divergências e parecenças entre lendas

Como já vos falei antes, existem diversas lendas que são parecidas umas com as outras, algumas delas até são variações confirmadas. Lembram-se da “Mulher de Branco“? É aquela de que vos falei quando também vos contei sobre a “Mulher de Vermelho“. As grandes diferenças centram-se em alguns detalhes iniciais que alteram a continuação da lenda. Isto é, podíamos até pensar que todas elas são as mesmas almas. Até percebermos as suas reais diferenças:

Mulher de Branco: normalmente é encontrada na estrada a tentar chegar a casa. Pede boleia e, a meio do caminho aponta para a frente e nos diz “Ali… Foi ali que eu morri”.
Mulher de Vermelho: Lenda que procura o amor e, ao encontrá-lo, é morta por ele.
Rapariga do Baile: Encontra alguém no baile que a leva a casa e, depois, se prova que ela está morta há muitos anos.

No entanto, há algo que sempre está presente: a sua beleza. Não se pode afirmar que alguém a tenha realmente visto algum dia. Nem que tipo de beleza ela tem, pois cada um a imagina à sua maneira e como acha que a sua beleza deveria ser. O vestido esvoaçante, ora vermelho ora branco, também está sempre presente.

A Rapariga do Baile no universo de “O Guardião das Lendas”

Ilustração da Rapariga do Baile
Ilustração da Rapariga do Baile

Para a história que podem ler no livro “O Guardião das Lendas” foi utilizada uma versão mais promíscua da lenda da Rapariga do Baile. Criei a sua origem numa rapariga que era – supostamente – real, uma espécie de ninfomaníaca com fetiches ‘estranhos’ que acabou por ser possuída por um Demónio de Olhos Amarelos e que se tornou numa lenda que busca o ‘amor verdadeiro‘ (ela não sabe o que é o amor, para ela amor é igual a sexo). Isto evidencia-se quando, após se tornar uma lenda, ela percebe que está condenada a vaguear pela terra em busca de alguém que possa ao menos beijar sem lhe roubar a alma, o que acontece bem antes de chegar ao coito. Retirei todas as menções a familiares e centrei-me na lenda em si, até porque ela é a que mais se liga a Alexandre por razões que não vos posso contar aqui. Ainda.

Como podem perceber, mesmo que o livro esteja dividido em vários ‘episódios’, acabam todos por ter o entrelaçar das várias lendas que aparecem ao longo da história e umas dão significado a outras enquanto a ação se desenvolve.

Conclusão

Haverá sempre uma nova versão, uma nova lenda a surgir sempre que estas histórias forem contadas, isso é inegável. A Rapariga do Baile, a Mulher de Branco, a Mulher de Vermelho, entre todas as outras, existirão para sempre na imaginação do povo; estas histórias que nos ensinam a não dar boleia a estranhos ou até mesmo a não ir para casa de estranhos onde a morte nos pode esperar, trazem-nos a inquietação que os nossos pais sempre quiseram inserir nas nossas mentes desde pequenos por uma única razão: proteção.

Já conhecias estas lendas? Já tiveste algum tipo de contacto com estas histórias? Conta-me tudo e partilha com os outros leitores!

Para mais informações sobre o livro “O Guardião das Lendas”, aconselho a leitura dos seguintes artigos:
1. A Mulher de Vermelho
2. Fogo-Fátuo
3. O Demónio dos Olhos Amarelos
4. Excerto do livro


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Fontes:
lendarium.org

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