Já ouviste falar do Velho da Saca/Homem do Saco, certo? Então vem descobrir quem é a Maria da Manta, um medo do folclore português que acaba por ser uma versão feminina do Velho da Saca, mas com algumas diferenças…
Quem é a Maria da Manta?
A Maria da Manta, também conhecida como Maria da Grade ou Maria Gancha, é uma das figuras que mais medo provoca do folclore português, principalmente às crianças. Pertence ao grupo dos “Papões”(“Bogeyman”) — criaturas que são usadas para assustar as crianças e mantê-las longe de algum tipo de perigo. Neste caso em concreto, é uma entidade que assombra os corpos de água por todo o Portugal.

A chorona? (La Llorona)
A Maria da Manta tem, na sua essência, algumas parecenças com La Llorona do México, no entanto, o seu passado é diferente. Enquanto que La Llorona afogou os seus próprios filhos, a Maria da Manta existe apenas com o intuito de afogar as crianças. Talvez uma procura mais aprofundada e um passado melhor vasculhado encontre e complete a história? (Em breve…)
Um Espírito das Águas com Más Intenções
Segundo a tradição oral, a Maria da Manta é um espírito aquático maligno que habita os rios, lagos, charcos e/ou poços por todo o território lusófono. A sua função é clara: atrair e afogar crianças que se aproximam demasiado da água.
Há quem diga que a Maria alimenta-se das almas das suas vítimas, é vista como uma presença silenciosa e traiçoeira e está sempre à espreita nos locais mais sombrios e húmidos.
Aquele toque no pé que sentes quando vais nadar? Pode não ser uma alga…
Aparência e Representações Regionais

A descrição da Maria da Manta varia conforme a região. Em algumas versões é retratada como uma velha deformada, assustadora, com cabelos emaranhados (ou totalmente careca), olhos que ardem como fogo, cornos na testa e garras afiadas.
Noutras versões, a criatura surge com um saco às costas, onde esconde as crianças capturadas, ou mesmo com os braços transformados em ganchos.
Existe também uma visão alternativa, que a representa como uma ninfa corrompida, outrora bela, mas transformada numa criatura vingativa por algum sofrimento antigo.
Maria da Manta VS Maria Mantela
Estranhei que a lenda tivesse “manta” no nome, mas não utilizasse nenhuma manta… Então fui pesquisar e percebi que pode ser um erro que foi cometido algures no tempo e deixado como está… Perece que, algures, alguém misturou a história da “Maria Mantela” com a “Maria da Manta” (antigamente mais chamada de Maria da Grade ou Maria Gancha).
Ora vejamos:
A Lenda da Maria Mantela
Em tempos antigos, na cidade de Chaves, vivia uma jovem mulher chamada Maria Mantela. Era conhecida por ser bonita, pobre e com uma vida marcada pela dureza. Cedo envolveu-se com um homem rico da região, de quem acabou por engravidar. No entanto, ele recusou assumir o filho, o que mergulhou Maria numa situação desesperante — ser mãe solteira naquela época era um peso social e moral tremendo.
O tempo passou, e o dia do parto chegou. Para surpresa de todos, Maria deu à luz gémeos. Sozinha, desamparada e completamente arrasada pela vergonha e pela rejeição, Maria envolveu os dois bebés numa manta, colocou-os num cesto e dirigiu-se ao rio Tâmega.
Em total desespero, lançou o cesto às águas. Os dois bebés morreram afogados.
Pouco depois, consumida pela culpa, Maria entregou-se às autoridades e confessou o que tinha feito. Foi presa, julgada e condenada. Diz-se que morreu jovem, e a sua história passou de geração em geração, envolta em tristeza e reflexão.

E assim encontrámos a nossa “La Llorona” portuguesa, com anos e anos, e que, sem querer, alterou o nome de outra lenda que se misturou com a sua, ou talvez tenha apenas derivado dela?
A Canção do Medo
Entre as várias formas de manter a lenda viva, destaca-se uma antiga cantiga dos adultos para assustar os mais pequenos:
“Maria da manta
tem os boches na garganta
Tem lume nos olhos
E lenha nos cornos
Tem leite nas tetelioilas
Corre montes e vales
E pés de altares
E mata meninos aos pares.”
Esta canção, apesar de ser cantada num tom mais infantil, transporta uma carga simbólica de terror e serve como um alerta para os perigos representados por zonas aquáticas profundas e escuras além de deixar no ar aquela tensão de “tenho de estar alerta porque ela está sempre à caça”.
Origens Pagãs?
O etnógrafo José Leite de Vasconcelos defende que entidades como a Maria da Manta podem ter origem em antigas divindades das águas — espíritos femininos venerados em tempos pagãos e associados à natureza, à fertilidade e ao mistério. Com a passagem dos séculos e a cristianização da cultura popular, estas figuras foram transformadas em monstros e seres demoníacos, usados para impor respeito e disciplina.
Uma Lenda que vive no Imaginário Popular
Mesmo na atualidade, o nome Maria da Manta ainda é usado em algumas zonas de Portugal como sinónimo de “bicho-papão” e continuar a evocar medo e respeito pelos perigos escondidos na natureza.
Muito mais do que uma simples lenda assustadora, esta figura serve como reflexo da forma como o povo português sempre soube usar as histórias orais para educar, proteger e transmitir valores às gerações seguintes.
O Guardião das Lendas: ClownDoll
No Especial de Verão: ClownDoll, Luísa é confrontada pela Maria da Manta, num ataque aos seus primos e a si mesma… Conseguirá ela protegê-los enquanto se protege a si mesma?

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Fontes:
portal-dos-mitos
portugalnummapa
chaves
sabermitologiaportuguesa
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